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Lance Notícias | 11/07/2022 15:30

11/07/2022 15:30

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“Eu não sou o que faço, o que faço é resultado de quem eu sou”: conta artesã de Xaxim

Marieli Bugiareki Barboza dos Santos tem 34 anos, é natural de Chapecó, mas reside em Xaxim desde a infância. Casada, mãe de dois filhos, dedica sua vida ao artesanato confeccionando peças cheias de detalhes e amor. O Lance Xaxim conversou com a artesã que diz não saber bem ao certo quando foi que passou a viver […]

“Eu não sou o que faço, o que faço é resultado de quem eu sou”: conta artesã de Xaxim

Marieli Bugiareki Barboza dos Santos tem 34 anos, é natural de Chapecó, mas reside em Xaxim desde a infância. Casada, mãe de dois filhos, dedica sua vida ao artesanato confeccionando peças cheias de detalhes e amor.

O Lance Xaxim conversou com a artesã que diz não saber bem ao certo quando foi que passou a viver do artesanato, mas que desde pequena sempre amou artes. Desde pequena mesmo. Seu primeiro desenho, o que mais gostava de fazer, foi quando ainda estava no pré-escolar, na capa do boletim, que segundo ela, é provável que sua mãe ainda o tenha guardado.

Quando questionada se havia alguém em sua família que a inspirava, Marieli conta de sua avó materna, Dona Polônia.

— Ela teve grande influência em minha vida. Foi ela a minha professora no começo de tudo. Por volta dos nove ou dez anos, ela me ensinou a tricotar. Minha primeira peça foi um cachecol colorido, feito com restos de novelos de lã. Ele era tão comprido, que eu usava para pular corda — conta Marieli, em tom de piada.

A artesã não parou por aí. Depois do tricô veio o crochê, os bordados, o trabalho com missanga, peças em feltro, pintura e até escultura. Com a facilidade que tinha, Marieli era capaz de observar uma peça pronta e reproduzi-la.

— As peças feitas na sua maioria eram para presentear. Sempre gostei de dar de presente o que eu fazia— comenta.

Aos 12 anos Marieli participou de um concurso de desenho na escola, que segundo diziam, era a nível mundial. O tema do concurso foi “Unidos pela paz” e ela garantiu o primeiro lugar a nível municipal e ganhou uma bicicleta.

Com relação a costura, a artesã conta que esta entrou na sua vida quando já tinha 19 anos e estava experimentando, pela primeira vez, como era ser mãe. Sua primogênita tinha nove meses e Marieli começou a trabalhar numa facção de costura. No início, sua função era tirar fios, depois suas colegas começaram a ensiná-la a costurar.

Marieli não ficou muto tempo na empresa. E em seguida, nasceu seu segundo filho. Então decidiu trabalhar em casa e ficar com os filhos.

— Com eles ainda pequenos comecei a cursar Direito. Foi muito difícil no início, faziam uns cinco ou seis anos que eu tinha terminado ensino médio. Fiz estágio voltado ao direito das crianças e adolescentes e ao direito dos idosos, no Centro de Atendimento a Comunidade (CAC), que ficava do lado do Fórum em Xaxim. Na sequência trabalhei como Técnica Administrativo, no mesmo lugar onde fiz o estágio e mais tarde, me inscrevi para a prova seletiva para estágio no Ministério Público em Xaxim e passei! Na época desses estágios eu fazia bichinhos de petchwhork. Eu nem sabia que tinha esse nome, fui descobrir mais tarde — conta rindo.

Naquela época em que Marieli estagiava no Ministério Público, seu marido ganhou de um cliente uma máquina de costura antiga e na hora pensou nela, já que sabia que ela gostava disso e tinha linha, agulha, botões, paninhos e afins guardados em todos os cantos de casa.

A máquina foi para a manutenção e quando voltou, conta que ficava resgatando nas memórias como se passava a linha, enchia a bonina e como era costurar, já que fazia muito tempo que não usava uma máquina.

Foi assim que se deu início ao mundo voltado para as ‘costurices’, como a artesã chama. Daí para frente, começou fazendo bichinhos, capas de caderneta e bonecas.

— No começo eu nem sabia que tecidos comprar, muito menos a quantidade, fora os outros materiais. Fui na cara, coragem, curiosidade e na vontade de criar. Aprendi o que sei com minhas próprias experiências, pois sempre tive muita facilidade com o trabalhar com as mãos. Fui criando os meus moldes, fazendo as minhas medidas e me testando a cada coisa criada. Graças a Deus, nas primeiras tentativas as coisas davam certas, mas sempre temos o que melhorar — conta.

Marieli teve como inspiração na costura de bonecas, as pessoas que conhecia. Queria reproduzir nas bonecas, o jeito, as roupas e o estilo de cada uma. Quando prontas, conta que olhava para as bonecas e lembrava de cada uma das pessoas especiais nas quais havia se inspirado. No início, foram três bonecas e todas ela deu de presente.

— Aí começaram os pedidos de bonecas para presente, que lembrassem as pessoas que a receberiam. Com suas características, como estilo de cabelo, vestimenta, profissão. Já fiz médica pediatra, bailarina, enfim tantas outras — comenta chateada por não possuir nenhuma foto.

— Quanto as roupinhas, foi um desafio que fiz a mim mesma. Pensei comigo: Se faço roupinhas para bonecas, o que me impede de fazer para as menininhas? E aí surgiu a ideia de fazer as roupinhas das bonecas combinando com as roupinhas das menininhas. A primeira roupinha foi a pedido da minha irmã mais nova, Francieli, como presente de aniversário de um aninho para a filha de uma amiga. Lembro que foi um vestidinho com tapa fraldas e lacinho e uma peruquinha na cor do cabelo da boneca, e a boneca com a mesma roupinha e lacinho— relembra.

Depois daí a artesã não parou mais. Ela conta que ama a possibilidade de criar várias coisas diferentes e não se ater a um segmento específico. Mesmo no período de pandemia, momento delicado para todos os setores, Marieli conta que ela e seu esposo, que são empreendedores individuais, ficaram preocupados, contudo, puderam ver o cuidado de Deus sobre suas vidas

— Lembro-me que era uma quarta-feira, se não me engano foi uma semana antes de tudo fechar, e algo dentro de mim dizia: faça máscaras. E foi o que fiz, comecei com uma peça de teste, e depois criei outros tamanhos, que iam do P ao GG. Mas fazer as máscaras não era o suficiente, elas precisavam ser vendidas. Lembro que fiz uma breve oração enquanto costurava: Pai, eu sei fazer, me dê a graça, não sei como, mas preciso vender. Então fotografei as máscaras e falei para alguns conhecidos, e pessoas que eu nem conhecia apareceram na porta de minha casa para comprar e até venderam as máscaras que eu fazia para seus parentes, amigos e colegas de serviço— lembra emocionada.

Atualmente, Marieli trabalha com roupinhas para meninas, por ser apaixonada por peças cheias de babados e lacinhos, e também confecciona peças de vestuário para meninos, mas estas, sob encomenda.

Além destas peças, a artesã produz kits de edredom para bebê, sacos de dormir, banquinhos de ovelhas e lhamas, pelúcias, bolsinhas térmicas de sementes para cólicas, naninhas, porta fraldas, plaquinhas porta maternidade, sapatinhos, babadores, prendedores de bico, toalhinhas, almofadas, carteiras, porta moedas, faixas e rabicós. Todas as opções citadas e mais um pouco, que segundo ela, depende da inspiração do dia.

Marieli gosta de dar significado para tudo que faz, por isso comenta.

— Uma coisa eu sei: As pessoas amam dar presentes e recebê-los também, ainda mais por se tratarem de peças artesanais, únicas e cheias de amor— fala.

A artesã demonstra sua gratidão a todos que já passam pela sua trajetória e encerra.

— Só tenho a agradecer, primeiramente a Deus pelo seu amor, graça e cuidado e pelo dom que ele me concedeu; pelas experiências de vida que tive, pelas pessoas que me apoiaram, meus clientes, pela minha família e em especial a meu marido que acreditou em mim, quando nem eu achava possível. Foi ele que pensou em mim na hora que ele ganhou aquela máquina. Foi ele quem me presenteou com minhas primeiras máquinas industrias. E eu não posso deixar de dizer mais uma coisa: Eu não sou o que faço, o que faço é resultado de quem eu sou — finaliza.

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